PROGRAMA ESPACIAL BRASILEIRO

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PROGRAMA ESPACIAL BRASILEIRO

 

Nas décadas de 50/60, o mundo assistia à corrida espacial promovida pelos Estados Unidos e pela União Soviética. Os soviéticos saíram na frente, lançando ao espaço o primeiro satélite do globo (o Sputinik) e o primeiro cosmonauta (Yuri Gagarian). Os americanos passaram à frente anos depois ao mandar o primeiro homem à Lua. No início, esses dois países eram os atores dessa saga, os demais, praticamente apenas espectadores.

A primeira atividade espacial no Brasil ocorreu em 1956, quando os Americanos instalaram e operaram por 4 anos uma estação, em Fernando de Noronha, para rastreio de foguetes lançados do Cabo Canaveral. Algum tempo depois, dois alunos do ITA construíram uma estação para a recepção de sinais de satélites, capturando sinais do satélite russo Sputinik e do americano Explorer I.

A primeira iniciativa do Brasil em relação a tecnologia espacial foi em 3 de Agosto de 1961, com a criação do Grupo de Organização da Comissão Nacional de Atividades Espaciais (GOCNAE), que foi instalada em uma sala emprestada no CTA, e alguns anos depois se instalou definitivamente naquele Centro.

Em 1964, foi criado o Grupo Executivo de Trabalhos de Estudos de Projetos Espaciais (GETEPE), subordinado ao Comando da Aeronáutica. Esse foi o Grupo que criou os primeiros objetivos a serem alcançados pelo Brasil no ramo espacial. Esses objetivos eram tímidos, mas lógicos para um país em desenvolvimento e sem dinheiro, como o Brasil. Eles se resumiam a acabar com a dependência estrangeira para lançamento de foguetes meteorológicos. O Brasil não fabricava esses foguetes e, também, não tinha instalações em seu vasto território para realizar esses lançamentos. Para resolver essa situação, os objetivos traçados buscavam criar uma base para lançamento de foguetes de sondagem no Brasil, estabelecer programas para foguetes de sondagem em parceria com os estrangeiros (não havia condições, na época, de partir para uma empreitada 100% nacional) e, por fim, incentivar a indústria privada brasileira a investir em projetos e pesquisas espaciais.

Em decorrência desses objetivos, a Missão Espacial Brasileira começou a dar os primeiros passos. Em 1965, foi inaugurado, próximo a cidade de Natal-RN, o Centro de Lançamento de Foguetes da Barreira do Inferno (CLFBI), que algum tempo depois foi renomeado para a atual denominação: Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI). O seu primeiro lançamento foi um Foguete Americano Nike-Apache.

De 1965 a 1970, mais de uma centena de operações similares ocorreram no CLBI. Porém, como estabelecido pela GETEPE, um dos objetivos primordiais a serem alcançados era a produção de foguetes de sondagem para experimentos e pesquisas ionosféricas. Fazê-los a partir de sondas americanas ou européias era extremamente caro. Então, na década de 60, foi iniciado o desenvolvimento dos foguetes de sondagem brasileiros, chamados de Série SONDA, que em sua totalidade foi composta de 4 modelos.

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O primeiro foguete brasileiro foi o SONDA I. Ele era um foguete de cerca de 3,9 metros de altura e pesava apenas 59Kg. Tinha dois estágios e seu apogeu era de 65Km. Parte dos componentes foram encomendados à Avibras, e por ser o primeiro projeto do país, muitas tecnologias tiveram que ser pesquisadas aqui. A principal delas foi a produção de tubos de alumínio sem costura, conseguida com a ajuda da empresa Termomecânica, de São Paulo. Essa tecnologia não foi aplicada apenas aos foguetes SONDA, mas também aos SBAT de uso militar aerolançado. Esse composto nacional era muito mais barato que o importado. Esse foi o primeiro benefício em prol do país. Só com a substituição de importações desse composto o Brasil economizou cerca de 1 milhão de dólares mensais. Estima-se que só essa economia representou todo o gasto do programa espacial Brasileiro até 1992. Foram lançados 225 SONDA I dentre 1967 e 1977.

A evolução continuou com o segundo produto da s érie: o SONDA II. Esse foguete tinha 4,1 metros de altura e diâmetro e massa muito maiores que o seu predecessor. Ele foi construído em várias versões, e a atual tem 310kg de massa, apogeu entre 50 e 100km e pode levar uma carga de 20 a 70kg. A série SONDA, como explicado, fez parte de um programa de desenvolvimento tecnológico, onde vários degraus tinham que ser percorridos antes de se chegar no topo da escada. As tecnologias criadas a partir do SONDA I permitiram a pesquisa de novas tecnologias 100% nacionais (fabricação estrutural, propelente e proteção térmica) que foram usadas no SONDA II, que inicialmente usou como base o foguete canadense Black Brant III. Foram lançados até hoje 61 SONDA II.

O terceiro engenho espacial da lista, o SONDA III, foi desenvolvido a partir de 1971. Composto de dois estágios, sendo o segundo uma modificação do SONDA II. Tinha características e desempenho muito superior ao anterior. Sua massa chegava a 1570 kg, tinha 8 metros de altura e seu apogeu alcançava 500 km, podendo levar até 150kg de carga útil. Foram realizados até hoje 31 lançamentos. O que se destacou do SONDA III, em relação ao SONDA II, além dos avanços técnicos, foi uma estrutura gerencial mais profissionalizada e organizada no projeto do mesmo. Ele foi o responsável por uma nova mentalidade de pesquisa, a da moderna metodologia de trabalho de engenharia complexa. Esse foguete deixou um descendente direto, o VS-30, que basicamente era o primeiro estágio do SONDA III modificado.

Em janeiro de 1971, na criação da Comissão Brasileira de Atividades Espaciais (COBAE). Ela tinha o objetivo de assessorar o Presidente da República na consecução da Política Nacional de Atividades Espaciais (PNDAE). Essa foi uma época de grandes mudanças, com a CNAE dando origem ao atual Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). A GETEPE teve o mesmo fim da CNAE, sendo incorporada pelo então Instituto de Atividades Espaciais (IAE). Muitos anos depois, a fusão dele com o IPD criou o Instituto de Aeronáutica e Espaço.

O SONDA IV foi também uma grande evolução em todos os sentidos. A primeira delas se deu antes mesmo dele nascer. Naquela época, o Brasil, que já tinha uma base tecnológica no campo espacial começou a conjecturar a hipótese de lançar um satélite nacional a partir de veículos lançadores nacionais. Isso ainda estava longe, mas como um primeiro passo decidiu-se evoluir a série SONDA ao seu máximo, para que, com os ganhos tecnológicos advindos, fosse possível a construção de um veículo lançador. O SONDA IV foi o ápice da série SONDA.

A disparidade entre o SONDA III e IV era grande. Só para se ter uma idéia, o último tinha mais que o dobro de peças mecânicas que o seu antecessor. Tinha 7 toneladas de massa e exigiu um grande esforço tecnológico. Ele foi o primeiro (e único) foguete da série SONDA a ter um sistema de controle de direção, através de um sistema de gases. Ele foi o primeiro a não usar trilhos para auxílio de decolagem devido a suas dimensões e tinha dois estágios.

Dentre todas as tecnologias pesquisadas, vale falar mais de um caso especial: a criação do propulsor S-40, do primeiro estágio. Devido às características do SONDA IV, o seu propulsor tinha que ser mais avançado que os demais anteriormente usados. Os planos também ditavam que os S-40 fossem usados em um futuro Veículo Lançador de Satélites (VLS), o que exigia qualidade. Portanto, um dos requerimentos desse propulsor era que fosse feito de um tipo especial de aço com uma enorme resistência, cerca de 200 kgf/mm², algo que requeria um avanço tecnológico no tratamento do aço comum. Chamado de Programa 300M (o nome do aço ultra-resistente) ele contou com a participação de três empresas que já vinham dando contribuições ao Programa Espacial: Acesita, Usiminas e Eletrometal. Após muitas pesquisas e investimentos, foi desenvolvida uma técnica de fusão avançada, chamada de “Eletro-Slag”, que conseguiu que o 300M suportasse uma pressão de 210 kgf/mm². Com o domínio da técnica de “Eletro-Slag” pelas indústrias, foi possível uma construção seriada do 300M e, portanto, surgiram as possibilidades de comercialização. Atestando a qualidade do aço, o mesmo foi selecionado pela BOEING para equipar os trens de pouso de seus jatos 747. Ou seja, não só o país economizou ao comprar um composto mais barato aqui, como também lucrou ao poder vendê-lo ao exterior.

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Os requesitos do SONDA IV e de um futuro VLS também requereram uma usina para a fabricação de combustíveis sólidos, que foi chamada de Usina Coronel Abner. Após o SONDA IV, o país já havia desenvolvido uma grande parte da tecnologia espacial para construção de seu VLS-1. Porém, o programa acabou ganhando uma envergadura maior quando foram estudadas todas as possibilidades nessa área. Os estudos, feitos pelo INPE e o CTA/IAE, revelaram o programa de envergadura máxima chamado de Missão Completa Espacial Brasileira (MCEB). Em termos gerais o MCEB vislumbra o lançamento de satélites brasileiros, a partir de veículos lançadores brasileiros, estabelecidos em uma base igualmente brasileira. Dentro do MCEB, idealizado em 1979, caberia ao INPE o desenvolvimento dos satélites enquanto ao CTA seria destinada a missão de construir os lançadores e a base de lançamento.

Após uma série de estudos chegou-se a configuração atual do VLS, com quatro propulsores distribuídos ao redor de um corpo central. Essa configuração é usada internacionalmente em lançadores consagrados como o Ariane V, Próton SL, Longa Marcha 2E e Delta II.

Infelizmente o VLS não teve sucesso até o momento. Foram feitos três testes com o mesmo, em 1997, 1999 e 2003. No último um desastre ocorreu: o VLS-1 V03 explodiu na plataforma de lançamento 3 dias antes da missão, jogando pelos ares toda a plataforma e ceifando a vida de 21 técnicos e engenheiros, na maior tragédia de todo o Programa Espacial Brasileiro. É notório que todos os países do mundo que detêm a tecnologia espacial já sofreram episódios parecidos, infelizmente o Brasil não foi a exceção.

Apesar de todos os benefícios e pontos positivos do Programa Espacial ele tem verbas minimamente adequadas para a sua finalização e inegáveis benefícios. O programa nunca foi tratado como "Programa de Estado" onde receberia verbas específicas e constantes para tal, sempre ficou restrito a baixa disponibilidade de recursos do Comando da Aeronáutica e do Ministério da Ciência e Tecnologia.

Programa Cruzeiro do Sul

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O panorama de falta atenção e de recursos parece estar mudando. No final de outubro de 2005, foi anunciado pelo Governo Brasileiro um audacioso plano de US$ 700 milhões para literalmente impulsionar o Programa Espacial Brasileiro. O chamado Programa Cruzeiro do Sul prevê o desenvolvimento até 2022 de 5 tipos de veículos lançadores de satélites no país. A data não foi escolhida por acaso. Em 2022 se comemoram 200 anos da Independência do Brasil e, pelo plano, o Brasil estará apto a lançar um satélite geo-estacionário a partir de um lançador nacional de grande porte. O projeto pretende incluir o Brasil no seleto grupo de países com capacidade de produzir e lançar seus próprios satélites, permitindo, ainda, que o país possa competir no mercado mundial de lançamentos de satélites em condições semelhantes aos países que hoje dominam esse cenário.

A família de 5 veículos lançadores será composta pelos foguetes: Alfa, Beta, Gama, Delta e Epsilon. Os nomes são em referência às cinco estrelas da constelação Cruzeiro do Sul. O relativamente baixo custo do programa se deve a considerável comunalidade entre os lançadores. O programa, que prevê uma evolução gradativa dos seus veículos para alcance de melhores desempenhos e de maiores capacidades para o transporte de carga útil, terá como um de seus maiores desafios o desenvolvimento e fabricação de motores à propulsão líquida de médio e grande porte. Veja como serão os lançadores:

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Características do Foguetes, segundo o CTA:

VLS Alfa: veículo inicial da família, será constituído pelo primeiro e segundo estágios do VLS-1 e por um propulsor a propelente líquido como estágio superior. Nessa configuração, terá capacidade de colocar satélites de até 250 Kg em órbitas equatoriais de 750 Km de altitude.

VLS Beta: constituído por um propulsor a propelente sólido de grande porte como primeiro estágio e por dois propulsores a propelente líquido no segundo e no terceiro estágios. O desempenho desse veículo permitirá a colocação de satélites de até 800 Kg em órbitas equatoriais de até 800 Km de altitude.

VLS Gama: caracteriza-se por ser o veículo intermediário entre os veículos de menor e maior porte que constituem a família do Programa Cruzeiro do Sul. Constituído por propulsores a propelente líquido em seus dois estágios, terá capacidade de colocar satélites de médio porte em órbitas polares e de transferência geo-estacionária.

VLS Delta: utilizando propulsores auxiliares ("boosters") na sua decolagem, o VLS Delta representa uma extensão da capacidade de seu antecessor (VLS Gama), tornando possível o transporte de satélites de até 2 toneladas para uma órbita de transferência geo-estacionária.

VLS Epsilon: representa o objetivo final do Programa Cruzeiro do Sul. Com capacidade de transportar satélites de até 4 toneladas a órbitas de transferência geo-estacionária, é constituído por três propulsores principais e dois propulsores auxiliares a propelente líquido.

 

última atualização em 04/agosto/2006

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